Criada em 2005 pela professora, escritora, artista visual e pesquisadora Laura Erber e pelo teórico, crítico literário e também professor Karl Erik Schøllhammer a Zazie Edições é uma editora independente, sem fins lucrativos, guiada por princípios de acesso livre e voltada à divulgação de textos teórico-críticos e projetos artísticos em português. Como é possível ler no site da editora, ao traduzir e publicar livros de modo independente do sistema comercial, a Zazie Edições procura intervir criticamente nos arquivos disponíveis do contemporâneo. A «Pequena Biblioteca de Ensaios» é uma das coleções da Zazie que tem se destacado nessa intervenção crítica dos arquivos em contexto lusófono. Com mais de 40 títulos disponíveis em seu catálogo, todos traduzidos ou publicados em língua portuguesa, a coleção reúne um conjunto heterogêneo e instigante de autoras e autores, assim como de temas dentro do campo das humanidades. Em entrevista à Laura Erber, editora e coordenadora da coleção, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais a «Pequena Biblioteca de Ensaios», além de refletir sobre a (in)especificidade do ensaio enquanto escrita, gesto e modalidade de pensamento. SEE: O projeto da «Pequena Biblioteca de Ensaios» disponibiliza e partilha o conhecimento em livre acesso, valoriza o pensamento crítico de autores internacionais atuais e o trabalho de pesquisa dos tradutores, garantindo sempre a autonomia e a singularidade de cada texto. Considera que o «ensaio» é o modo de escrita que mais se ajusta, na contemporaneidade, ao desejo de dar forma a um pensamento crítico individual (artístico, político, literário ou filosófico), democratizando o conhecimento?
Laura Erber: "Sou fascinada pelo ensaio como gênero ou modalidade de escrita da aprendizagem e portanto também do pesquisador, gênero aqui num sentido ambíguo certamente, e que pode declinar em literatura ou em ciência. Assim me interessa o ensaio como escrita em contato privilegiado com perguntas e com problemas, mas movida pela vontade de saber mais, um certo prazer do conhecer e não uma exposição do conhecido ou do conhecimento. O ensaio se move por meio de perguntas mas sem dissolvê-las, resolvê-las, são dúvidas que palpitam, e que por vezes galopamos, mesmo sabendo que essa modalidade de escrita – que é também uma modalidade ou gesto do pensamento – tende a ser mais dispersiva do que convergente, e que não alcançaremos uma conclusão particularmente iluminada. Trata-se de adentrar zonas do conhecido-ainda-desconhecido, uma inflexão que conjuga divagação e percepção crítica, onde é possível dar quase o mesmo peso ao que se sabe, ao que não se sabe ainda e ao que se deixa de saber ou ao que se abandona em todo processo teórico-crítico..." Leia a entrevista
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23 NOV às 15h00 / seminário online Primeiro de um Ciclo de Seminários que visa revisitar criticamente um género literário e filosófico marcante na modernidade. E ao mesmo tempo refletir sobre um pensamento muito significativo neste campo, iniciado em Portugal com os Ensaios I (1920) de António Sérgio, com prolongamentos e divergências que se desenvolveram até à atualidade. Que conceitos e práticas ensaísticas têm coexistido na cultura portuguesa? Começamos pelo caso de David Mourão Ferreira, que neste campo dialogou intensamente com Sérgio. Link para a conferência: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/8046418405 ID da reunião: 804 641 8405 Para celebrar o que seria o aniversário de 80 anos do ensaísta brasileiro Alexandre Eulálio (1932-1988), a Editora 34 publicou em 2012 “Tempo Reencontrado: Ensaios sobre Arte e Literatura”. Autor de uma infinidade de crônicas, resenhas e ensaios sobre os mais diversos temas, Eulálio é frequentemente citado como um dos maiores expoentes do gênero no país, embora desde os anos 1990 tenha gradualmente desaparecido das prateleiras de livrarias e dos cursos de literatura. Talvez porque a radicalização gradual da liturgia disciplinar tenda a valorizar muito pouco intelectuais dessa estirpe.
“Tempo Reencontrado” parece ter restaurado um pouco o interesse pelo autor. Em 2017, a Companhia das Letras publicou “Os Brilhos Todos”, uma coletânea de 36 textos inéditos produzidos entre 1952 e 1987. No ano seguinte, Paulo Roberto Pires, na coletânea "Doze Ensaios sobre o Ensaio", incluiu o clássico "O Ensaio Literário no Brasil" (disponível integralmente clicando aqui) e assim definiu seu autor: "Poeta, jornalista, historiador, crítico de arte e literatura, cronista, cineasta e tradutor, Alexandre Eulalio tornou-se, essencialmente, o que grande parte dos intelectuais brasileiros só foi ou é como ramal auxiliar: ensaísta." Para quem quiser saber mais, fica a sugestão do artigo publicado pelo professor Pedro Meira Monteiro sobre "Tempo Reencontrado" e o vídeo (abaixo) do evento organizado na Unicamp - Alexandre Eulalio e seu legado - pelo aniversário do CEDAE, o centro de documentação que leva seu nome na universidade. Acaba de ser publicado em Portugal uma tradução do livro Ensaísmo de Brian Dillon, professor de Escrita Criativa da Universidade de Londres. O livro é uma das mais recentes contribuições sobre o tema e foi saudado por sua abordagem particularmente criativa. Em 2018, Dillon foi convidado pela livraria Shakespeare and Company, em Paris, para falar da publicação. O resultado dessa conserva pode ser visto no vídeo abaixo. |
Arquivo:
December 2020
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