… porque é sempre por rizoma que o desejo se move e produz … (Deleuze/ Guattari) |
Vertical Divider
|
Espaço de liberdade, pensamento crítico, partilha e subjetividade, este Site foi pensado como um campo aberto à reflexão e ao diálogo sobre Ensaio e Ensaísmo.
Não há um programa ou um sistema prévio a sitiá-lo. «Campo aberto» − o nome da primeira iniciativa «conversas sobre o Ensaio e Ensaísmo» – nomeia também um lugar de encontro para quem deseje falar e pensar − sem preconceitos ou pressupostos limitadores – sobre uma experiência de escrita e de leitura que é também uma atitude ética e crítica: uma forma de vida. Como o próprio Ensaio, o site que a ele é dedicado, desenha-se entre a recusa da univocidade da perspetiva e a constante procura de diferentes modos de ver (Berger), de novas possibilidades de descoberta e de encontro, consigo mesmo e com os Outros, na sua mais profícua diversidade. Norteados, talvez, pela «utopia» pretendida por Robert Musil, procuramos explorar imprevisíveis relações entre as esferas da razão e da intuição, da ciência e da arte, da objetividade e da subjetividade. Todos aqueles que desejem colaborar e intervir no permanente exercício de (re)construção deste espaço de encontro digital podem contatar-nos – enviando sugestões, propostas bibliográficas, eventos ou iniciativas para divulgação, ensaios… − através do email: [email protected] Projeto de investigação: Sobre Ensaio e Ensaísmo (SEE): a atitude ensaística as artes, a literatura e a filosofia no século XXI IR: Jessica di Chiara (PUC Rio), Rita Basilio (NOVA-FCSH. IELT) Apresentação e contexto de investigação Uma reconfiguração do campo das Humanidades estará em curso nas primeiras décadas do século XXI, carecendo de ser descrita. Os campos artístico, literário e filosófico confluem para zonas comuns ou partilhadas − plataformas digitais, coleções de livros ou de textos, exercícios gráficos, publicações em forma de revista, projetos editoriais que se distinguem por cultivar um novo espírito ensaístico. Sem tensão entre vanguarda e tradição, sem recurso a manifestos ou programas, sem estabelecimento de corpos coletivos estáveis ou organizados, na margem de rituais e instituições académicas (com larga autonomia em relação às suas regras), funcionando em rede ou por afinidades e ligações afetivas, estas movimentações ensaísticas envolvem artistas, editoras, tradutores, designers, curadores, filósofos, poetas, prosadores que experimentam cruzar áreas diversas a partir de solicitações pontuais. Essa atração transversal pelo ensaio envolve uma ressignificação atual da própria ideia de ensaio e uma reinterpretação do ensaísmo como atitude intelectual e disposição de escrita. O que significa essa hipotética «ensaificação de tudo», como lhe chamou (num curto ensaio, claro) Christy Wampole, em 2013? O campo do digital terá, segundo esta hipótese descritiva, uma influência que transcende o suporte, uma vez que as próprias potencialidades criativas da tecnologia são frequentemente exploradas no mesmo regime de experiência ou de tentativa, sem a figura da «Obra» no horizonte. Mas, por isso mesmo, a tecnologia informática não tem aqui hegemonia, nem sequer prevalência: parte destas experiências prosseguem no domínio da tipografia, do livro impresso, da revista em papel, do filme, da curadoria de exposições, do objeto tridimensional ou da fotografia. O âmbito proposto para esta indagação é, por razões de ordem prática e teórica (não se pretende fazer uma enciclopédia ou uma panorâmica universal), limitado a um universo em língua portuguesa, particularmente visível em Portugal e no Brasil. Dentro desse âmbito, há exemplos que se destacam e que estão frequentemente em contacto uns com os outros ou incluem colaboradores comuns. Mencionam-se apenas publicações online: — no Brasil Zazie Edições (http://www.zazie.com.br/), revista Arte & Ensaios (https://www.ppgav.eba.ufrj.br/publicacoes/arte-e-ensaios/), revista Carbono (http://revistacarbono.com/), revista Piseagrama (https://piseagrama.org/), revista O Menelick 2º Ato (http://www.omenelick2ato.com/revista/ ), entre outras; — em Portugal Edições do Saco (https://edicoesdosaco.tumblr.com/), as Não Edições (https://naoedicoes.tumblr.com/), revista Dobra (http://www.revistadobra.pt/), revista BUALA (https://www.buala.org/), revista Esc:ala (https://escalanarede.com/), revista WrongWrong (http://wrongwrong.net/), revista Forma de Vida (https://formadevida.org/), revista Jogos Florais (https://www.jogosflorais.com/); — entre Portugal e Brasil, a editora Chão da Feira (https://chaodafeira.com/). São projetos que cultivam um caráter experimental ou ensaístico nos seus trabalhos, ao mesmo tempo que sobrepõem, em deliberada ambivalência, pensamento, artes, literatura, design gráfico, discurso teórico ou crítico oriundo das ciências sociais. A marca decisiva introduzida pela renovação da atitude ensaística é dupla: porosidade de fronteiras e indeterminação de hierarquias. Neste universo, deixa de se reconhecer um «espaço literário» propriamente dito, um âmbito filosófico devidamente disciplinado, uma ordem artística separada — e as solicitações ou atrações mútuas tornam-se habituais. Nenhum campo vigia ou supervisiona os outros, nenhuma arte está claramente demarcada de outra, nenhuma é vista como maior por oposição a artes menores, a crítica não se produz para assegurar a estabilidade do cânone ou fornecer garantias de qualidade, a limitação temática não é discernível. Será necessário perguntar: de onde vem este aparente renascimento da atitude ensaística e das suas práticas de curiosidade intelectual num universo saturado pela pesquisa universitária e respetivas regras de avaliação? Virá dessa mesma saturação, como escapatória intelectual e inventiva? E ainda: será o ensaísmo generalizado a forma que resulta de certo colapso da teoria (da teoria tal como ela se formalizou durante o que se chamou «estruturalismo»)? E um terceiro problema: que consequências e que alcance terá esta abertura de campo, em que as relações de intersecção, sobreposição, diluição, cruzamento, hibridismo, paródia, justaposição, desguarnecimento de fronteiras, se tornam mais produtivas do que a obediência disciplinar? |
© See, 2020 · Todos os direitos reservados · [email protected] · design: Sónia Rafael